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Ansiedade climática – serve para alguma coisa?

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Alysson Diógenes
engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Mecânica (UFSC), é professor do Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (UP).

 

Uma recente pesquisa da Google Trends indicou que as buscas sobre o tema “ansiedade climática”. A busca em português aumentou 73 vezes desde 2017, e em inglês, aumentou três vezes. Mas, de fato, há motivo para pânico e, além disso, quem se beneficia com essa crescente preocupação?
Retomando um hábito que parece cada dia mais distante – o de consultar o dicionário, ansiedade é definida como “uma reação natural do corpo relacionada à preocupação e ao medo. Torna-se uma condição psicológica quando se torna um excesso e passa a atrapalhar atividades rotineiras”. Por sua vez, a ansiedade climática é descrita como um sentimento de angústia relacionado aos impactos do aquecimento global e eventos extremos, e tem sido observada em várias partes do mundo, especialmente entre crianças e jovens.
Ué, mas se ansiedade é um fenômeno comum, por que sua variante climática é predominantemente percebida pelos mais jovens? Quer dizer que os mais experientes não se preocupam com o aquecimento global e as mudanças climáticas? Claro que não. Mas ao mesmo tempo, pessoas com mais idade já viveram o suficiente para entender que a constante do mundo é a mudança e, ao contrário do que algumas pessoas pensam, algumas delas são inevitáveis. Mesmo que a maioria seja evitável, muitas estão completamente fora do alcance do ser humano comum, assim como você que lê estas linhas, por mais mal escritas que sejam. Ainda que uma jovem pirralha sueca, criada com o melhor que o consumismo tem de melhor, acredite que pode realizar algo útil com o dinheiro do seu pai, através de meia dúzia de vídeos e discursos vãos.
Se algum jovem ainda lê acima de 144 caracteres e chegou até aqui, tenha calma. Você pode mudar o mundo. No entanto, não pela ansiedade. Isso só traz prejuízos e inação. Se você deseja, de fato, mudar o mundo, o caminho correto é o do esforço próprio. Tenha o melhor emprego e a melhor formação possível. Seja o melhor colaborador ou empresário possível. Trate bem as pessoas com quem você convive. E se parece que isso não faz diferença, aceite que a mudança leva tempo. Às vezes, mais tempo do que se pode acompanhar na visão de alguém com 20 ou 30 anos (sim, pode parecer frustrante, mas quem já viveu além disso e já teve sua idade sabe do que estou falando).
Para concluir, citarei duas pessoas. Uma delas é real: Rod Dreher, autor de um excelente livro intitulado “A Opção Beneditina”. Em sua última obra, Dreher nos convida a desistir da ideia de tentar mudar o mundo, pois isso é grande demais para qualquer um. Tentar fazer isso só leva a raiva e frustração. Incluiria a ansiedade climática. Em vez disso, ele incentiva que cada um mude seu pequeno mundo à sua volta. Para seu filho, é muito mais importante que você trate bem seu cônjuge do que se a China dominará ou não o mundo. Para seu colaborador, um bônus por metas é muito mais importante do que a preocupação com a possibilidade de um país do outro lado do mundo invadir outro.
Resumindo este artigo, faço referência a um personagem fictício. Como diria Chapolin Colorado: “Não priemos cânico”. Apesar dos erros do dia a dia, o mundo não acabará. Ele mudará. Algumas dessas mudanças serão positivas, enquanto outras nem tanto. No entanto, seja como for o futuro, parece que não está sob o nosso controle. E não há nada que possamos fazer além de focar no básico: ser o melhor que podemos ser hoje.