De tempos em tempos, o debate sobre gerações no trabalho volta com força. E quase sempre no mesmo tom: generalizações de um lado, respostas atravessadas do outro. Um cabo de guerra que pouco contribui e que, sinceramente, já cansou. Não tenho a pretensão de resolver a briga geracional, só quero propor uma reflexão.
O filósofo Argentino Enrique Dussel, lá nos anos 90, já trazia o pensamento de que uma geração só é verdadeiramente promissora quando desperta em nós duas coisas: esperança e confiança. Essa ideia me atravessa porque explica a dualidade que sentimos: a empolgação com o novo e, ao mesmo tempo, a dúvida se aquilo vai mesmo se sustentar.
Há, sim, uma força vibrante na juventude. O que pode faltar, às vezes, é o chão firme da disciplina. O esforço de seguir tentando mesmo quando a parte empolgante já passou. A curiosidade de verdade é aquela que não só pergunta, mas estuda, aprofunda, busca se tornar dona daquilo que questiona.
Mas aqui vai um contraponto importante: quem está há mais tempo no mercado também pode trocar a curiosidade pelo ceticismo. Pode ter confundido experiência com cinismo. Já vi profissionais maduros completamente fechados ao novo, porque acham que já viram tudo. E, spoiler: ninguém viu tudo.
A verdade é que as pessoas com muitas certezas costumam agregar pouco. Vivemos um tempo em que parecer certo virou moeda social. E isso alimenta certezas barulhentas, mas pouco úteis. Pessoas cheias de certezas dificilmente criam espaço para trocas.
É por isso que não acredito nesse embate entre gerações como algo produtivo. O mundo muda o tempo todo. Nenhuma geração vai resolver tudo sozinha. O que pode mesmo transformar o mercado — e a forma como nos relacionamos com o trabalho — é a coragem de trocar. De aprender com quem pensa diferente. De sustentar a força com consistência.
Texto: Mariana Ciscato (jornalista, pedagoga e mestranda em Educação, Arte e História da Cultura. Escreve sobre desenvolvimento de carreira, educação e expressões culturais).