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Tiro no pé

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Tiro no pé
A entrevista do prefeito de Nova Odessa, Cláudio José Schooder, o Leitinho (PSD), no programa Liberal no Ar, da Zé FM, se transformou em um verdadeiro tiro no pé. Ao criticar duramente os vereadores e afirmar que as emendas impositivas são usadas “para fazer média com time de futebol”, Leitinho comprou briga com o Legislativo e provocou uma onda de revolta generalizada, inclusive entre membros da própria base aliada.

Deslegitimação
A tentativa do prefeito de deslegitimar as indicações feitas pelos parlamentares não apenas expôs sua dificuldade em dialogar com a Câmara como também agravou um desgaste político já latente. Vereadores que até então mantinham postura de apoio ao governo demonstraram indignação com o tom e o conteúdo da fala de Leitinho, que classificaram como desrespeitosa e politicamente desastrosa.

Orçamento
A polêmica é pelos 2% do orçamento municipal reservados por lei para as chamadas emendas impositivas. Esse percentual permite que os vereadores destinem recursos a entidades, projetos e serviços, desde que 50% do valor vá obrigatoriamente para a área da saúde. Leitinho tentou reduzir esse percentual para 0,45%, proposta que acabou arquivada pelas comissões da Câmara. Uma derrota que sofreu da própria base.

Média
Inconformado com a derrota, o prefeito usou a rádio para desabafar. “Tudo bem, quer fazer a média deles com uma entidade ou com um time de futebol, não tem problema, mas 2%? Isso aí me revolta porque quem vai pagar é a população. Os vereadores não estão lá para fazer média”, disparou. Em tom de desafio, ainda cobrou que os parlamentares mandem emendas para comprar remédio e fazer exame.

Efeito colateral
A fala teve efeito colateral imediato. Além de ferir a imagem institucional da Câmara, que representa os interesses da população, também desrespeita o papel legal das emendas, que são um instrumento legítimo e democrático de repartição de poder orçamentário entre Executivo e Legislativo.

Ataque
Ao chamar de média o que são destinações a entidades sociais, culturais, esportivas e da saúde, o prefeito ataca diretamente quem está na ponta, atendendo a população carente.

Descontrole
Leitinho perdeu o controle da própria base. Haverá resistência em aprovar projetos futuros do Executivo, como forma de demonstrar insatisfação. Além da instabilidade política, a postura do prefeito revela um despreparo para lidar com as regras do jogo democrático.

Estrago da língua
O que Leitinho chama de “média” é, na verdade, o exercício da representatividade. Deslegitimar isso é fechar portas para o diálogo e abrir caminho para o isolamento político. E se a intenção de Leitinho era pressionar os vereadores, o efeito foi o oposto: uniu oposição e base em torno de um sentimento comum de indignação. Resta saber se o prefeito terá fôlego político para reverter o estrago causado por sua própria língua.