O que deveria ser sinônimo de crescimento planejado se tornou um caos anunciado em Nova Odessa. Em poucos anos, 28 novos empreendimentos imobiliários foram aprovados e liberados pela administração Leitinho e a cidade se mantém sem infraestrutura básica. Nenhuma nova represa, nenhuma nova escola, e muito menos investimentos proporcionais em saneamento, saúde ou mobilidade urbana. Com o aumento populacional, o risco é de colapso urbano iminente.
A cidade, que em 2010 tinha 51.242 habitantes, saltou para 62.019 em 2022, segundo dados do IBGE. Com a chegada dos novos empreendimentos — a maioria loteamentos residenciais — estima-se que esse número poderá ultrapassar 80 mil moradores em poucos anos. A pergunta que os moradores fazem é simples: para onde vão essas pessoas? Vão estudar onde? Vão beber água de onde? Serão atendidas por quais unidades de saúde?
“Estão vendendo lote como se estivessem distribuindo papel na praça. E ninguém pensa em onde essas famílias vão estudar, se vão ter creche, se vai ter água. Parece que a cidade está sendo loteada por pedaços, mas ninguém pensa no todo”, reclama Ana Paula, moradora do Jardim Santa Rosa.
Especialistas alertam que, sem expansão proporcional da infraestrutura, a cidade poderá experimentar apagões no abastecimento, superlotação escolar e estrangulamento dos postos de saúde.
Moradores reclamam da omissão do Ministério Público, que há alguns anos chegou a demonstrar preocupação com o avanço desordenado dos loteamentos.
A letargia do MP virou alvo de críticas de lideranças locais, que agora consideram acionar os próprios órgãos fiscalizadores do Ministério Público, como a Corregedoria-Geral, para que investiguem a conduta do órgão.“Não dá para aceitar que um órgão que existe para fiscalizar o cumprimento da lei fique assistindo de camarote enquanto a cidade caminha para um desastre. Se o MP sabe, acho que deveria agir. Agora é a população que vai fiscalizar o fiscal”, disse o morador Paulo de Oliveira, do Jardim São Manoel.
O problema não é só a quantidade de loteamentos, mas a falta de planejamento integrado. Os bairros aprovados se espalham por diversas regiões da cidade, muitos longe do centro e de equipamentos públicos, criando bolsões habitacionais isolados. E o cenário tende a piorar. Com o aumento populacional previsto e nenhuma política de expansão de transporte público, de coleta de lixo ou drenagem urbana, a qualidade de vida em Nova Odessa está sob risco.
Nos bairros afetados, a sensação é de abandono. A cada novo muro levantado nos loteamentos, cresce também a revolta de quem já vive na cidade e teme por seu futuro.“Nova Odessa virou um negócio. Um grande canteiro de vendas de terrenos, mas sem alma, sem planejamento, sem cuidado”, lamentou Oliveira.