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Rei Kawakubo: a revolucionária que desafia a Moda e a Sociedade até hoje

Nos anos 2000, a Comme des Garçons inovou desde as passarelas ao varejo, com a inauguração das icônicas Guerrilla Stores.

Estilista Rei Kauakubo. (Foto: cidadão cultura)

Nascida em 11 de outubro de 1942, em Tóquio, Rei Kawakubo não apenas
ingressou no mundo da moda em 1973 com a fundação de sua marca, Comme des
Garçons, como também o transformou para sempre. Mais do que uma estilista,
Kawakubo é uma filósofa do vestuário, que desafia convenções e redefine os limites
entre arte e moda constantemente. Sua abordagem, que equilibra o conceitual com
o comercial, rendeu à CdG um status de culto, mantido com maestria até os dias
atuais – um feito incomum em uma indústria marcada por efemeridades.

Nos anos 2000, a Comme des Garçons inovou desde as passarelas ao varejo, com
a inauguração das icônicas Guerrilla Stores. Esses espaços temporários, instalados
em bairros alternativos de cidades como Berlim, Barcelona e Varsóvia, funcionavam
por apenas um ano e eram concebidos como manifestações artísticas fugazes. A
proposta ia muito além do comércio: era uma crítica ao mercado de luxo tradicional,
com lojas de baixo custo operacional, mas alto impacto criativo. Atualmente, em um
mundo pós-pandêmico, onde o varejo físico pena para se reinventar, a estratégia de
Kawakubo parece mais visionária do que nunca – antecipando a ascensão de
pop-ups e experiências imersivas que marcam o mercado atual.

Modelo veste coleção Broken Bride. (Foto: Sarah Aaronson)

Fugindo do senso comum que parte de silhuetas ou tecidos, Kawakubo inicia suas
coleções com uma única palavra, explorando-a até suas camadas mais profundas e
subversivas. Esse método, que poderia parecer abstrato, resulta em narrativas
visuais poderosas – como na coleção “Destroy” (1982), que desconstruía a
elegância tradicional com peças rasgadas e assimétricas, ou “Broken Bride” (2005),
que questionava o romantismo idealizado dos casamentos.

Seu trabalho vanguardista recebeu tanto destaque, que em 2017, o Metropolitan
Museum of Art (MET), em Nova York, consagrou seu legado com a exposição “Art of
the In-Between”, dedicada exclusivamente ao seu trabalho. A exibição contou com
140 looks que desafiavam noções de gênero, forma e função, solidificando
Kawakubo como uma das vozes mais importantes da moda contemporânea. Foi
apenas a segunda vez na história do museu que uma estilista viva recebeu uma
mostra individual – a primeira havia sido Yves Saint Laurent.

Tênis em parceria com Adidas (Foto: Cortesia CdG)

Em 2023, enquanto discussões como sustentabilidade e inclusão repercutiam entre
as marcas, Kawakubo já chamava a atenção da sociedade para esses debates
décadas atrás. Sua coleção intitulada “Monster” (2014) confrontava os padrões de
beleza, enquanto a Outono/Inverno 2019 destacava a diversidade racial nas
passarelas, algo que só se tornou pauta global após os protestos do Black Lives
Matter em 2020.
Enquanto marcas tradicionais correm para se adaptar a um mundo pós-digital, a
Comme des Garçons permanece à frente de seu tempo. Suas colaborações
recentes – como a linha de perfumes em parceria com a Dover Street Market e as
coleções em conjunto com a Nike – provam que, mesmo aos 81 anos, Kawakubo
continua versátil, influenciando não somente a alta-costura, como também a cultura
streetwear.

Seu marido e parceiro de negócios, Adrian Joffe, CEO da Dover Street Market,
desempenha um papel fundamental na expansão do império CdG, garantindo que
sua visão disruptiva alcance um nível global. Juntos, eles criaram um ecossistema
único que mistura moda, arte e comércio experimental. Enquanto isso, a estilista
segue evitando entrevistas e redes sociais, preferindo que suas coleções falem por
si – um contraste radical em uma era de hype e superexposição midiática.

Rei Kawakubo não criou apenas roupas; ela criou um manifesto. Sua obra é uma
provocação constante contra o establishment, uma celebração do imperfeito e do
inesperado. Em um momento em que a moda oscila entre o comercial e o ativismo,
sua filosofia permanece mais relevante do que nunca: “A moda não é sobre o que
você veste, mas sobre o que você questiona.”

E enquanto houver regras a serem quebradas, Kawakubo seguirá sendo a mestra
da desconstrução.