Os profissionais da Educação da rede municipal de Nova Odessa divulgaram nesta quarta-feira (09) uma carta de repúdio direcionada à Câmara Municipal e à população. No documento, educadores expressam indignação diante de declarações feitas por vereadores durante sessões recentes do Legislativo, que, segundo a categoria, ofendem e desvalorizam o trabalho docente.
A carta, assinada coletivamente pelos professores, também denuncia as condições precárias de trabalho enfrentadas nas escolas municipais, como falta de materiais pedagógicos, problemas estruturais, ausência de substitutos qualificados e atrasos em contratos de serviços essenciais.
Entre as principais reivindicações, os profissionais exigem retratação pública por parte dos parlamentares que, segundo eles, propagaram falas ofensivas. Também pedem respeito aos direitos trabalhistas, especialmente no que diz respeito aos afastamentos por motivo de saúde, e a abertura de diálogo permanente com a categoria.
Apesar dos desafios, os educadores destacam que os resultados educacionais do município têm sido positivos e reforçam que esses avanços são fruto do esforço dos profissionais que atuam na rede.
A carta na íntegra pode ser lida a seguir.
“CARTA DE REPÚDIO
À Câmara Municipal e à população de Nova Odessa
Nova Odessa, 9 de julho de 2025
Nós, profissionais da Educação da Rede Municipal de Nova Odessa, viemos a público manifestar nosso profundo repúdio às declarações proferidas nas últimas sessões da Câmara Municipal, que atribuíram inverdades e julgamentos infundados à nossa categoria.
As falas depreciativas que ecoaram daquele plenário desconsideram por completo o compromisso ético, diário e incansável de cada professor com o direito de toda criança de aprender. Mais do que ofender, tais discursos ferem a dignidade de quem carrega, com esforço e dedicação, os avanços da educação em nosso município.
Rejeitamos, com veemência, as acusações de descomprometimento por parte dos(as) professores(as). É inadmissível e desonesto responsabilizar os profissionais da educação pelos inúmeros desafios estruturais da rede, desafios estes que são consequência direta de decisões administrativas e da falta de investimentos contínuos. Culpar o educador é distorcer os fatos, é fugir da responsabilidade de quem deveria zelar pelas condições mínimas do ensino público.
Também repudiamos com indignação os questionamentos quanto à apresentação de atestados médicos. A Lei Federal nº 605/49 (art. 6º, §1º), regulamentada pela Portaria nº 3.211/84 do Ministério do Trabalho, garante ao trabalhador o direito de se ausentar por motivo de saúde. Tratar esse direito legal como falta de comprometimento é desumano, ilegal e desrespeitoso com servidores que muitas vezes seguem trabalhando mesmo diante do adoecimento físico e emocional.
Vale lembrar que a ausência de substitutos qualificados não é responsabilidade dos professores, mas da administração. Infelizmente, muitas salas ficam sob a responsabilidade de estagiários ou cuidadores, o que compromete a qualidade do ensino e sobrecarrega ainda mais os profissionais efetivos.
A precarização das condições de trabalho é evidente e constante:
- Falta de materiais pedagógicos básicos;
- Infraestrutura deficiente, com salas sem internet ou ventilação adequada;
- Equipamentos quebrados e lousas digitais inoperantes;
- Atrasos em contratos de merenda, manutenção e serviços terceirizados.
E ainda assim, os resultados aparecem: Nova Odessa registrou IDEB de 6,7 em 2023 nos anos iniciais, superando a média estadual e nacional. Um feito que não se explica sem o esforço incansável dos(as) professores(as), que frequentemente utilizam recursos próprios para garantir que o aprendizado aconteça.
Apesar disso, nossos direitos seguem sendo ignorados e questionados. A desvalorização salarial, os erros no dissídio de 2025, o reajuste inferior ao previsto em lei, os retroativos e os percentuais mal calculados são evidências claras da negligência institucional com os educadores.
A qualidade da educação oferecida às crianças de Nova Odessa depende diretamente das condições de trabalho e da valorização dos(as) profissionais da educação. Quando a Câmara ataca quem educa, e o Executivo falha em garantir infraestrutura, a comunidade inteira é prejudicada.
Por isso, exigimos:
- Retratação pública dos vereadores que propagaram falas ofensivas e inverídicas;
- Respeito irrestrito aos direitos trabalhistas, incluindo o reconhecimento legal e humano dos afastamentos médicos;
- Diálogo permanente e transparente com a categoria, como base para a construção de políticas públicas sérias de valorização da Educação.
Educação é investimento, não despesa.
Desrespeitar quem educa é comprometer o futuro de Nova Odessa.
Seguiremos lutando, com coragem e dignidade, por uma educação pública de qualidade — para todos, com todos.
Respeitosamente,
Profissionais da Educação da Rede Municipal de Nova Odessa”.