Uma CPI que parece reality show de produção barata, com roteiro de gosto duvidoso. Escândalos políticos, guerras, absurdos em série. O noticiário e as redes sociais balançaram tanto essa semana que nem roteirista de série distópica daria conta. O Brasil parece um episódio interminável de The Office — mas que, a cada nova cena, vai deixando de ser engraçado para virar uma piada de extremo mau gosto.
No meio desse caos, uma avalanche de opiniões, análises e interpretações. Parece que todo adulto sente a obrigação de emitir um parecer esperto e original. E então, mergulhamos numa segunda camada da realidade: a dimensão paralela das redes sociais, onde cada novidade vira combustível para debates acalorados e reflexões instantâneas.
Essa semana, travei. Não sabia como ocupar este espaço. Byung-Chul Han já havia cantado a pedra: vivemos tantas possibilidades que acabamos paralisados, vítimas da fadiga da escolha. Pensei em escrever algo mais íntimo, partilhar reflexões pessoais. Mas logo veio a dúvida: e se eu, jornalista, ignorasse os temas quentes do momento? Soaria alienada, desconectada?
Querido leitor, estamos nos conhecendo agora, e prezo pela transparência. Então, aqui vai um ato confessional: nem sempre tenho algo claro a dizer sobre tudo isso. Às vezes, meu ponto de vista não é o mais popular; em outras, simplesmente não consigo alinhavar as ideias. Muitas vezes, tudo já parece dito — para o bem ou para o mal. E há momentos em que só queria compartilhar o pensamento de alguém e dizer: assino embaixo, sem tirar nem pôr.
Talvez isso soe como falha na matrix, vindo de alguém da comunicação, cuja essência é espalhar notícias. Mas os roteiristas brasileiros parecem empenhados em nos bombardear com tantos absurdos que mal temos tempo de processar — quanto mais refletir. E assim seguimos, dentro de um grande circo, sem previsão de encerramento.
Texto: Mariana Ciscato
(jornalista, pedagoga e mestranda em Educação, Arte e História da Cultura. Escreve sobre desenvolvimento de carreira, educação e expressões culturais).