Remédio para a burrice

Há um santo remédio para a ignorância: leitura. Ler, ler sempre. Ler mais. Quando cansar, continuar a ler.  Essa a pregação que os pais deveriam fazer a seus filhos, os avós a seus netos. Quem não lê, não pensa, não vê. Pior ainda: não sabe falar, não sabe escrever, não sabe pensar.

Não posso imaginar que alguém tenha alergia a livro. É a mais escancarada confissão de despreparo. Ainda há leitores no Brasil e um conforto é saber que existem livros que já foram publicados seguidas vezes, desde que lançados. Um exemplo: “O Encontro Marcado”, de Fernando Sabino. Chegou à centésima edição! A primeira é de 1956.

Fernando Sabino é mineiro de Belo Horizonte, onde nasceu em 12.10.1923. Aos treze anos já escreve e não para mais. Contos, crônicas e quarenta livros. Dentre eles, “O Grande Mentecapto” e “O Menino no Espelho”. Teria completado 95 anos se não tivesse morrido em 2004. Escolheu como epitáfio: “Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem, morreu menino”.

O sucesso de “O Encontro Marcado” foi a linguagem jovem e desterritorializada. Também atemporal. A literatura brasileira ainda estava impregnada de romances regionais. “O quinze”, de Raquel de Queiroz, “O menino de engenho”, de José Lins do Rego, “Grande Sertão, Veredas”, de João Guimarães Rosa. A leitura de Fernando Sabino desperta o apetite do leitor para ler “Este lado do paraíso”, romance de estreia de F.Scott Fitzgerald, “Retrato do artista quando jovem”, de James Joyce, “Os Buddenbrook” de Thomas Mann. Mas que também estimula a leitura dos outros livros de Fernando Sabino: “Tabuleiro de Damas”, livro de memórias, publicado em 1988, em que ele conta o impacto do sucesso obtido pelo “O Encontro Marcado”. Mas também “Os Grilos não cantam mais”, “A vida real”, “O Ponto de Partida” e os já citados “O Grande Mentecapto” e “O menino no Espelho”. São inúmeros os seus livros. As crônicas valem a pena. Ensinam a escrever. E a escrever bonito.

Conta-se que Guimarães Rosa telefonou a Fernando Sabino e perguntou o que ele estava escrevendo. Quando ouviu que eram crônicas, o grande pensador disse: “Construa pirâmides e deixe de fazer biscoitos!”. Ora, são os biscoitos finos de Fernando Sabino que podem despertar a criança e o jovem brasileiro para a tão imprescindível leitura. Enquanto “Grande Sertão, Veredas”, por seu hermetismo, nem sempre aumenta o fã clube da leitura. Seja como for, leia. Leia sempre. Leia mais. Leia como divertimento, não apenas para prestar exames. A paixão pela leitura não tem contra-indicações.

*José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, Universidade Corporativa do Registro de Imóveis e Presidente da Academia Paulista de Letras-2019/2020