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O efeito iceberg

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Sempre gostei de assistir documentários a respeito da natureza, fico impressionado com sua grandeza e diversidade. Um dos assuntos que sempre me fascinou foi o gelo, em especial os icebergs. Quantas histórias relacionadas às montanhas de gelo flutuantes. Talvez a mais famosa seja o naufrágio do Titanic. Mas, a informação que mais despertou minha curiosidade foi saber que por maior que seja essa montanha de gelo, o que vemos na verdade corresponde a cerca de 10% do seu tamanho total, ou seja, sob a superfície da água temos nove vezes mais do que conseguimos ver.

Gosto de pensar metaforicamente sobre isto em comparação com as diferentes atividades de trabalho, mas, em especial com a do teólogo exegeta. Esse profissional é o responsável por analisar profundamente os textos bíblicos, utilizando todo conhecimento e ferramentas necessárias para extrair o real significado de um trecho, capítulo e ou livro da Bíblia, a fim de que essas descobertas embasem corretamente sua teologia e possam afirmar que um ensino é realmente bíblico.

Assim como a menor parte do iceberg pode ser visto, no trabalho do teólogo exegeta não é diferente. Quando se lê um artigo, um comentário ou até mesmo se ouve um discurso, muitas vezes, não imaginamos o trabalho que dá pesquisar e estudar a fundo um texto.

Para se ter uma ideia os teólogos exegetas podem passar meses a fio pesquisando um único texto. Pois não basta ler apenas em seu próprio idioma, é extremamente necessário dominar as línguas originais dos escritos sagrados, a saber hebraico para cerca de 95% do Antigo testamento, aramaico para os outros 5% e grego koinê para todo o Novo testamento. Além de conhecer os diferentes tipos de literaturas, e as formas de interpretar cada um deles. Entender as múltiplas formas de paralelismos e figuras de linguagem que são utilizadas além de conhecer as características históricas, geográficas, políticas, sociais, culturais e religiosas que estão ao redor do fragmento estudado.

Buscar compreender também, quem foi o autor do texto e como este pensava, além de procurar entender como o destinatário original do texto recebeu a mensagem. Para só aí então, começar a interpretar o que realmente foi escrito e retirar do texto os conceitos e ensinos. Tudo isso dentro de uma metodologia clara e bem estruturada pela hermenêutica. Um trabalho realmente cansativo, mas extremamente recompensador.

Há quem se impressione com os 10% que estão fora da água, mas o que deveria nos fascinar realmente é a imensidão que está abaixo. O teólogo exegeta é aquele que consegue mergulhar para verificar as bases e fundamentos que sustentam aquilo que efetivamente se pode observar. Podemos dizer que este trabalho se ocupa em conhecer tudo nos seus mínimos detalhes, afim de trazer a superfície toda verdade da revelação de Deus.

Rodrigo Rangel é teólogo com ênfase em exegese, professor da área de Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter