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NA TRINCHEIRA… REFLETINDO!

Em um só texto não caberiam tantas perturbações que fluem da mente neste momento. De certa forma, é como que colocar luz e sombra no momento em que o planeta Terra parou pelo Covid-19. Aliás, Terra parar era algo só imaginário e cantado por Raul Seixas. Até poderíamos achar lunático cantar que um dia a Terra parou, mas agora parou de forma compulsória por muitos dias.

Peço licença para você e sugiro que esqueça a ideologia, o partido político, as redes sociais, a localidade onde reside, o boteco que frequenta e até o berço de onde veio e reflita sobre esse enorme vazio que se abre em nossas vidas. Aliás, se fosse me perguntar a cor desse vazio, neste momento diria que, diante da presença ostensiva do Covid-19, que bate às portas dos palácios, das mansões, dos sobrados, das casas e dos barracos, mostrando a fragilidade do ser humano, ainda é cinza.

A doença vem de forma “democrática”, seja nos países do G-7, seja nos emergentes, ou seja, nos países pobres. Talvez venha para colocar todo mundo na mesma régua. Régua cujas medidas são, simplesmente, sobreviver ou não, ser pego ou não pelo bichinho. Triste o cenário, mas fonte de/para reflexão.

Até poucos dias atrás, muitos de nós se achavam imbatíveis, poderosos, “donos” de muitos bens materiais. Ricos, bonitos e inteligentes enfim. Bastou o vírus sair da toca para nos tocarmos (agora um “nós” inclusivo…) de que somos frágeis, “apenas um suspiro”, como dizia minha avó. Agora estamos entrincheirados, abrigados contra um inimigo invisível. A sensação é péssima, como se bastasse colocarmos a cabeça para fora da trincheira, que um sniper com seu rifle de precisão nos atingiria sem dó nem piedade.

A conjuntura faz muita coisa vir à tona. Ninguém está totalmente protegido por um caríssimo e bom plano de saúde que dá direito a avião UTI, assim como não o está por um atendimento básico do SUS. Ninguém está protegido morando em Dubai, Nova Iorque, Londres, ou em uma comunidade carente do Rio de Janeiro. Neste momento, não há lugar seguro. A incerteza do segundo seguinte reina e fica à flor da pele, já que ela sempre existiu (e existirá), mas a insegurança em um momento de vazio cinzento é pior.

Contudo, o jogo não está perdido. Estamos aqui jogando, embora as regras ainda não estejam claras. Estamos batalhando pela sobrevivência e, nessa batalha, tiramos (ou deveríamos tirar) lições do momento. Fácil não será! Amargaremos a tragédia da pandemia neste momento e depois as consequências na economia e nas áreas sociais, como falências, desemprego, miséria e fome. O cenário apocalíptico faz muitos lembrarem que Deus existe, que dinheiro não compra tudo, que a liberdade de ir e vir é um direito fundamental, que trabalhar é maravilhoso e que nascemos para viver em comunidade. O isolamento social assusta, podendo até deprimir.

Ainda que a ideia inicial fosse apenas suscitar reflexões, outras luzes se acendem para autoquestionamentos: O que é ser feliz? O que nos faz feliz? Quem nunca se questionou sobre a felicidade? Possivelmente, para todos, ter os familiares com saúde traria a felicidade, mas, nos dias “normais”, não se deu conta disso. Há também pequenos atos que nos trazem a felicidade no dia a dia, como levar o filho com saúde até o portão da escola (ir e vir) e depois seguir para mais um dia de trabalho. Ou ir na casa dos avós comer um pedaço de bolo de fubá com café. Ou, bater uma bolinha com os amigos no fim de semana (viver em comunidade). Agora, muitos de nós entrincheirados pode(re)mos perceber como nossa vida (sem o Covid-19) era boa e não apreciávamos os detalhes…

 Marçal Rogério Rizzo economista e professor na UFMS – Campus de Três Lagoas/MS