in

DA PANDEMIA AO PERDÃO

Diante dos fatos diariamente atualizados, o mundo parou para acompanhar a evolução de um novo vírus – o COVID-19, que com propagação violentamente rápida coloca em nosso vocabulário termos como “transmissão comunitária”, quase sempre restritos aos meios acadêmicos especializados ou aos filmes de ficção científica.

Junto a essa situação sem precedentes, comparada apenas à Gripe Espanhola, em 1918, nosso primeiro instinto é o medo, fortalecido, sobretudo, pelo desconhecido.

O apego da raça humana, racional e consciente, em momentos de grande medo, dor e desespero à fé, buscando forças em seres superiores, entidades, energias ou elementos da natureza; seja o meu Deus, o seu Deus, ou a divindade que traga conforto, não é novidade.

E não me ocorre nenhuma outra hipótese para que a benção “Urbi et Orbi”, tenha sido excepcionalmente proferida no dia 27 de março: levar conforto aos que creem. O comunicado da Santa Sé revela que “neste tempo de emergência para a humanidade […] a oração do Santo Padre poderá ser seguida ao vivo através dos meios de comunicação”. Tradição e tecnologia se unem na propagação de amor e simbolismos: a Praça de São Pedro vazia diante do trono papal em doloroso contraste aos necrotérios italianos superlotados; o “crucifixo milagroso”, que segundo a tradição católica salvou Roma da Peste Negra há 500 anos, exposto e beijado pelo Papa, em um claro pedido a Deus: Salve-nos!

Quando Francisco levanta a voz e em latim roga que “o Senhor Todo Poderoso e misericordioso” conceda indulgência, absolvição, e remissão dos pecados e encerra com a benção apostólica, “que a bênção de Deus Todo Poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo desça sobre vós e permaneça sempre”, fala imediatamente não apenas aos católicos, mas a todos os cristãos; e aos muçulmanos, e aos judeus, filhos desse Deus Todo Poderoso, Deus de Abrahão, que como visto nessa semana, em Jerusalém, ao orarem juntos aos seus Deuses durante a luta pelo inimigo que, por ora, deve ser combatido, tornam-se fontes de renascimento da fé na humanidade, ao cessarem suas guerras.

Que a manifestação do Santo Padre leve amor e perdão a todos os povos, em todas as religiões, e que juntamente com a oração dos paramédicos na Terra Santa, nos traga conforto, renove nossa fé e esperança para que, juntos, possamos construir um novo mundo pós-pandemia.

João Paulo Vani

Presidente da Academia Brasileira de Escritores. Mestre e Doutor em Teoria Literária (Unesp) e Especialista em Administração (MBA) com ênfase em Comunicação e Marketing. Coordenador nacional do programa “Brazilian Studies” da University of Louisville, nos Estados Unidos.