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O meu terapeuta é de marca

Hoje em dia é brega dizer que está tudo bem

Uma amiga me contou que tem visto cada vez mais a frase “terapia em dia” nos perfis do Tinder. Virou moda. Antes, era “academia em dia”, lembra? Agora, malham os traumas da infância com personal lacaniano.

E não para por aí. Na mesma semana, fui a um almoço de trabalho e ninguém falou de comida ou serviço. Só de remédio. Ansiolítico virou petisco. Discutiram efeitos colaterais com a mesma empolgação com que antigamente se falava de vinho: “Esse aqui dá sono”, “Aquele tem uma vibe meio euforia”, “O outro harmoniza com reunião às oito”.

À noite, no grupo do WhatsApp, um colega mandou: “Desculpa não ter respondido antes, estava emocionalmente indisponível.” A frase veio acompanhada de um gif de panda triste, deitado no chão.

A saúde mental, coitada, foi parar no balcão da vitrine. O capitalismo, esse personal trainer de tendências, pegou a terapia e enfiou um QR code nela. Agora tem gente que ostenta o psicanalista como quem mostra o terno: “O meu é lacaniano”, “Ah, eu sou freudiano raiz”, “Sou jungueano desde os sete anos, antes de virar moda.”

Viramos uma geração DSM de bolso. Ninguém sai de casa sem chave, celular, carteira… e uma crise de identidade prontinha pra usar. E se não tiver, inventa. Porque hoje em dia dizer que está bem virou cafona. O mundo está desabando, e você feliz? Tem algo errado aí, amigão.

Falar de saúde mental é essencial, e que bom que estamos falando, mas vamos combinar: terapia não é filtro do Instagram, e equilíbrio emocional não é estampa de camiseta.

 

Texto: Elias Cavalcante (Escritor, jornalista e publicitário. Escreve sobre o cotidiano com humor e uma boa pitada de ironia).