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O inesperado também é destino

Escrevo esse texto fora de meu habitat natural — física e metaforicamente falando. Estou de férias e conhecendo parte da Europa, então o tema não poderia ser outro.

Escrevo esse texto fora de meu habitat natural — física e metaforicamente falando. Estou de férias e conhecendo parte da Europa, então o tema não poderia ser outro.

Desde que eu e meu marido decidimos nosso destino e começamos a organização da viagem, minha mente não me deixou em paz.

Pensei em tudo que poderia acontecer, imaginei todos os cenários. Como uma boa ansiosa, pensei em catástrofes das mais variadas origens e tamanhos.

Chegando aqui, percebi que aumentamos demais os problemas. Que pensamos demais. E se eu perder o voo? E se não me deixarem entrar? E se eu não conseguir me comunicar? E se eu perder minha mala?

E se…. Eu simplesmente sentisse o momento, e me permitisse, um pouquinho que seja, ser guiada pelo inesperado?

Inevitavelmente, penso na minha tataravó — uma imigrante lituana que desembarcou no Brasil no início do século passado. Mulher do campo, atravessou o oceano de barco com seis filhos, sozinha, para viver num país que não conhecia, sem falar uma única palavra em português. Imagino o frio na barriga que ela sentiu, as dúvidas, os medos… e, ao mesmo tempo, a coragem imensa de seguir adiante.

Tento resgatar, através da imagem que criei dela para mim, uma força interna para me desprender um pouco e me jogar ao desconhecido, ao imprevisto, ao inesperado.

Porque, quase cem anos depois, com Google Tradutor, mapas online e internet, convenhamos: eu não tenho desculpa alguma.

Texto: Mariana Ciscato (jornalista, pedagoga e mestranda em Educação, Arte e História da Cultura. Escreve sobre desenvolvimento de carreira, educação e expressões culturais).