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O date corporativo

Mesmo com técnicas e certa experiência acumulada, sempre me pego com a mesma pergunta: como conhecer alguém de verdade em 30, 40 minutos de conversa?

Entrevistas de emprego são, em muitos aspectos, encontros coreografados. De um lado, alguém tentando mostrar sua melhor versão. Do outro, alguém tentando decifrar se aquilo que está sendo mostrado faz sentido para o contexto. Ambos calculando palavras, posturas, pausas. Um teatro discreto, mas nem por isso menos real.

Mesmo com técnicas e certa experiência acumulada, sempre me pego com a mesma pergunta: como conhecer alguém de verdade em 30, 40 minutos de conversa? Especialmente numa situação em que os dois lados estão se avaliando, tentando mostrar o melhor de si. Meio nervosos, meio cautelosos, meio montados.

Lembro que uma vez li que o Steve Jobs fazia entrevistas tomando cerveja, num ambiente descontraído. A lógica era simples: se ele gostasse de passar tempo com a pessoa, era um bom sinal. A teoria parece boa. Mas até que ponto a espontaneidade é mesmo espontânea quando existe uma expectativa embutida no encontro?

Entrevistas de emprego e dates românticos têm muito mais em comum do que a gente imagina. Você dá match com alguém no LinkedIn ou no app, troca algumas mensagens, combina um horário e pronto: lá estão vocês frente a frente, num café ou numa sala de reunião, se entrevistando. Tentando impressionar, mostrar sua melhor versão, parecer interessante. Às vezes até dando risada do que nem achou tão engraçado assim.

E no fim, todo mundo quer saber a mesma coisa: vale a pena marcar o segundo encontro?

O problema é que, assim como nos dates, a gente geralmente conhece só a persona e não a pessoa. A versão editada, treinada, com respostas ensaiadas e um sorrisinho estratégico no final. Dá pra confiar? Talvez.

Mas a verdade é que, tanto no amor quanto no trabalho, o tempo continua sendo o único capaz de revelar quem é quem. As primeiras conversas importam, claro. São filtros, portas de entrada, intuições. Mas o que sustenta mesmo — seja uma relação profissional ou pessoal — é o que acontece depois do match: o cotidiano, as pequenas entregas, os silêncios, os dias em que ninguém está tentando impressionar e, principalmente, os quem continua correndo do seu lado quando as coisas começam a dar errado.

Talvez por isso eu ande tentando me tornar mais atenta ao improviso. Não para julgar a partir de deslizes, mas para perceber nuances: a forma como alguém lida com uma pergunta inesperada, com a própria dúvida, com um silêncio desconfortável. São nesses desvios que, às vezes, se revela um traço de autenticidade. Porque o contrário disso, o script perfeito, é bom só pra quem quer contratar um robô.

E ninguém quer conviver com um robô, né?

Texto: Mariana Ciscato (jornalista, pedagoga e mestranda em Educação, Arte e História da Cultura. Escreve sobre desenvolvimento de carreira, educação e expressões culturais).