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Promotora manda processo de Polaco para Justiça Eleitoral de Nova Odessa e Câmara

Maria Cecília Nacle, do Ministério Público de Itatinga, despachou no sentido de enviar cópia para que os órgãos tomem “as providências que entenderem necessárias” contra o vereador

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Após tomar conhecimento da posse do suplente Wladiney Pereira Brígida, o Polaco (PL), em uma das cadeiras da Câmara de Nova Odessa, a promotora Maria Cecília Alfieri Nacle, do Ministério Público de Itatinga (SP), determinou a remessa urgente de todo o processo penal envolvendo o parlamentar à Justiça Eleitoral e ao Poder Legislativo para que adotem as “providências cabíveis”.

O despacho da promotora foi feito no dia 30 de junho, três dias depois da renúncia da então vereadora Carol Moura. “Considerando que o indiciado Wladiney era suplente de vereadora na cidade de Nova Odessa e acabou de assumir o cargo interinamente em razão de renúncia, tendo em vista eventuais repercussões político-eleitorais implicadas ao mandato eletivo, requeiro a extração de cópias e remessa à Câmara de Vereadores da aludida cidade, bem como à Justiça Eleitoral responsável pela 292ª Zona Eleitoral, para as providências que entenderem cabíveis”, traz o despacho da promotora.

Polaco foi preso em flagrante em março de 2018 sob a acusação de corrupção passiva. Examinador do Detran à época, o hoje vereador é acusado de cobrar R$ 150 para beneficiar alunos que haviam sido reprovados em exame para obtenção da CNH. Na última segunda-feira (10), o Legislativo decidiu – com os votos dos vereadores Tiago Lobo (PV), Professor Antonio (PSD), Leitinho (PSD) e Carla Lucena (PV – arquivar a Comissão Processante instaurada para apurar o caso.

O advogado Bem-Hur Gomes, que assumiu a defesa de Polaco em meados de 2019, chegou a protocolar um pedido de sigilo à Justiça de Itatinga sobre o caso envolvendo o vereador. No documento, o advogado ressalta que Polaco “é vereador, podendo assim, a publicidade prejudicar a sua honra e prestígio, até inviabilizando sua atividade política. O pedido, entretanto, foi negado pelo Poder Judiciário daquela cidade. A promotora já está em posse do laudo pericial realizado no celular de Polaco, mas ainda aguarda o exame no aparelho de Marisa Borin Godoi, funcionária da autoescola que “arrecadava” o dinheiro junto aos alunos reprovados e que seria repassado ao vereador, segundo afirmação dela mesma em depoimento à Polícia Civil.

Vereador disse à polícia que pediu ajuda para ‘almoço’

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Em seu depoimento à Polícia Civil de Itatinga, no mesmo dia em que foi preso em flagrante acusado de corrupção passiva, o vereador Wladiney Pereira Brígida, o Polaco (PL), confirmou que manteve contato telefônico com a instrutora na noite anterior aos exames práticos e “solicitou a Marisa a possibilidade dela conseguir uma ajuda, por exemplo, o almoço (sic). Não foi quem propôs a Marisa solicitar aos reprovados, para que fossem aprovados, os valores de R$ 100”. D i s s e ta mb ém qu e perguntou à instrutora o valor da reprova (R$ 150) e chegou a falar para Marisa: “Vê com eles (alunos) a possibilidade de dar um almoço”.

Para convencer instrutora, Polaco disse: “não vai dar nada”

Em depoimento dado à Polícia Civil, a instrutora da autoescola Apolo, Marisa Borin Godoi disse que o vereador Wladiney Pereira Brígida, o Polaco (PV), fez, por telefone, “proposta” para que ela arrecadasse dinheiro entre os alunos reprovados no exame de CNH. Marisa afirma que, num primeiro momento, não concordou, mas Polaco a convenceu, segundo o depoimento, dizendo que “isso não iria dar nada”.

Os R$ 650 arrecadados juntos aos cinco alunos não foram entregues ao vereador “porque não deu tempo”, explica a instrutora, já que os dois foram abordados e presos pelos policiais civis. Em outro trecho de seu depoimento, Marisa disse que Polaco telefonou e pediu que ela contatasse os alunos que tivessem alguma dificuldade na aprovação da CNH.

O valor combinado foi R$ 100 para aqueles reprovados no exame da 1ª CNH e R$ 150 para os alunos reprovados na mudança de categoria. “Os valores arrecadados seriam entregues a Wladiney e a interrogada não ficaria com nada, pois ele disse que morava longe e tinha gastos”, traz o documento da Polícia Civil. Marisa diz ainda que o aluno C.A.N.; (responsável pela denúncia junto à Polícia Civil) foi examinado por Polaco e reprovado no exame para mudança de categoria. Segundo ela, o vereador a procurou e disse: “vê se rola alguma coisa”. “A interrogada (Marisa) propôs, então, o pagamento de R$ 150, o que foi feito por ele, que acabou sendo aprovado. Quando foi abordada pelos policiais, ela trazia consigo R$ 650 pertinentes às arrecadações que fez e disse que o valor seria entregue a Wladiney. Foi a primeira vez que solicitou vantagem indevida para que os alunos fossem aprovados e o fez a pedido de Wladiney”, aponta o interrogatório.

Instrutora arrecadou R$ 650 entre os alunos reprovados

O suposto esquema foi descoberto depois que o desempregado C.A.N., indignado com a proposta feita por Marisa a pedido do vereador Wladiney Pereira Brígida, o Polaco (PL), procurou a Polícia Civil. Em depoimento, ele disse que, após ser reprovado no exame, foi chamado “num canto” pela funcionária da autoescola e ouviu: “A ficha ainda está em branco e se você quiser passar, você tem que pagar R$ 150”. Ainda segundo ele, Marisa disse que o dinheiro não seria para ela, mas “para ele”, no caso, Polaco. Ao todo, cinco alunos da autoescola Apolo, onde trabalhava Marisa Borin Godoi, prestaram depoimento à Polícia Civil e afirmaram que pagaram, entre R$ 100 e R$ 150, para serem aprovados nos exames de CNH.

O suposto esquema teria arrecadado R$ 650 em um único dia (27 de março de 2018) e garantiu o documento para uma mulher que já tinha sido reprovada em outros três exames. A.C.P.S., outra aluna da autoescola, disse à Polícia que foi procurada por Marisa no dia anterior ao exame e tomou conhecimento da “proposta”. “Marisa falou que a declarante já tinha sido reprovada uma vez e que tal fato poderia ocorrer de novo. Entretanto, no próximo exame viria um examinador (Polaco) que ela conhecia e que ele poderia ajudá-la na aprovação, desde que ‘rendesse um dinheiro’ para ele, um valor de R$ 100 (sic)”.

A aluna disse ter aceitado o acordo e, mesmo, segundo ela mesma disse, tendo cometido uma falta durante o exame, foi aprovada. Mas o caso que chama atenção envolveu a aluna J. G.B. Também em depoimento à Polícia Civil, ela afirmou que já tinha sido reprovada três vezes nos exames práticos de direção e que recebeu um telefonema de Marisa, oferecendo a proposta. “Disse a declarante que Marisa afirmou que no próximo exame viria um examinador muito bom (Polaco) e que poderia ajudá-la a ser aprovada, desde que não cometesse erros graves, como deixar o carro “afogar”. E que para isso deveria entregar R$ 100 (sic), que ele, sendo muito bonzinho, iria ajudá-la a ser aprovada”.

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