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‘O melhor remédio agora é a conscientização’

Em entrevista exclusiva ao JNO, o secretário de Saúde Vanderlei Cocato demonstrou preocupação com os próximos dias em meio à pandemia de Coronavírus

Um dos protagonistas na gestão das medidas adotadas para evitar a disseminação do novo coronavírus no município, o secretário de Saúde Vanderlei Cocato projetou a retomada gradual da rotina de atendimento na rede municipal de saúde e avaliou os avanços obtidos com obras históricas, como a reforma completa do Hospital e Maternidade Municipal ‘Dr. Acílio Carreon Garcia’.

1. Secretário, o mundo enfrenta a maior pandemia da história. Em São Paulo, passamos dos cinco mil mortos e, no Brasil, já temos mais de 20 mil vidas vencidas pela Covid-19. Apesar de todas as dificuldades, Nova Odessa tem se destacado entre os municípios da RMC no enfrentamento à doença. Como tem sido essa luta?

No começo da pandemia, adotamos medidas que norteariam nossas ações no combate ao novo coronavírus. Por determinação do prefeito Benjamim Bill Vieira de Souza, instituímos um comitê estratégico composto por médicos e enfermeiros para o planejamento de ações preventivas e respostas rápidas a eventuais casos e o Gabinete de Crise, formado por todos os secretários e coordenado pelo prefeito Bill. A partir daí, criamos um protocolo geral, com determinações, orientações e recomendações para o enfrentamento, sempre com o importante apoio da nossa equipe técnica. Tomamos decisões duras, mas necessárias para evitar a disseminação do vírus, como o cancelamento de consultas, cirurgias e exames agendados na rede e suspensão das visitas no nosso Hospital Municipal. A prefeitura acompanhou os decretos do Governo do Estado, restringindo o funcionamento do comércio às atividades consideradas essenciais e exigindo o uso obrigatório de máscaras de proteção. Tudo isso sob orientação permanente de nossos profissionais. Essas medidas e a criação da Unidade Respiratória têm sido fundamentais para o enfrentamento da pandemia de forma organizada e eficiente.

2. Qual o papel da Unidade Respiratória nessa estrutura?

O Centro de Combate ao Coronavírus foi criado a partir do olhar e do conhecimento dos nossos técnicos – médicos, inclusive infectologista, enfermeiros e demais profissionais da saúde – com base em protocolos internacionais. Ele foi estruturado na antiga UBS 5, no Jardim Alvorada, de forma que pudéssemos concentrar em um único local pacientes com problemas respiratórios em uma ala e usuários com suspeita e quadros confirmados de coronavírus em outra, isolada e preparada para isso. É um espaço que conta hoje com seis leitos para pacientes graves, equipados com respiradores. Considernando toda a estrutura, podemos ampliar o número de leitos de enfermaria para 60 no total. Essa unidade atende 24 horas por dia, de segunda a segunda, com equipes formadas por médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, assistentes sociais e fisioterapeutas. A unidade completa um mês de funcionamento neste sábado, dia 23, com mais de 400 atendimentos realizados. Com a absorção dessa demanda, estamos conseguindo desafogar o Hospital Municipal e as unidades básicas de saúde, deixando-os em condições de se dedicarem a outros atendimentos e, aos poucos, retomarem suas rotinas.

3. Secretário, apesar das medidas de isolamento, a curva de contágio e, consequentemente, o número de mortes, seguem aumentando no país. Qual é a situação de Nova Odessa?

Infelizmente nós também registramos mortes em Nova Odessa e casos graves da doença. Em 20 dias, dobramos o número de casos no município. Muita gente ainda duvida que a Covid-19 possa ser tão prejudicial, mas a cada vez que converso com familiares de quem está doente tenho mais certeza de que é preciso conscientizar pela prevenção. Apesar de todo trabalho de orientação e fiscalização feito pela Secretaria de Saúde, vejo muita gente se arriscando e participando de aglomerações na cidade, como o festival de pipas promovido no último final de semana. Estamos recebendo relatos de pessoas que não quiseram o isolamento quando estavam com uma pessoa da casa infectada e internada. Hoje, estão com dois internados. Temos pacientes que procuraram o médico com um quadro de febre e coriza e acabaram na UTI. Esse distanciamento de agora pode nos manter próximos no futuro. O melhor remédio agora é a conscientização da população sobre o papel de cada um. Neste momento todos nós podemos ser contagiados ou podemos ser portadores assintomáticos do vírus e contaminar alguém. Estamos nos aproximando do inverno e a incidência de doenças respiratórias aumenta nesse período. Peço para que não brinquem com esse assunto e não compartilhem ‘fake news’. Não queremos alarmar a população. Nosso papel é conscientizar e zelar pelo bem dos novaodessenses.

4. Já que o hospital e as UBS’s estão voltando à normalidade, há previsão de retomada do agendamento de consultas e exames?

É importante ressaltar que não houve suspensão total de exames e consultas agendadas com médicos especialistas. Desde 23 de março, quando suspendemos os procedimentos em razão da pandemia, casos de urgência continuam sendo atendidos mediante triagem realizada por médicos em uma central implantada no Ambulatório de Especialidades. Isso porque as consultas foram suspensas, mas os médicos continuaram trabalhando no hospital e nas UBS’s. Elaboramos um plano de retomada gradual dos atendimentos nas unidades básicas de saúde e no ambulatório, com toda segurança necessária, e estamos monitorando a curva de disseminação da doença no município, na região, no Estado e no país. No momento oportuno, vamos colocá-lo em prática.

5. Mesmo com a crise, as obras, inclusive na saúde, não param. Como é possível?

Com gestão e planejamento, marcas do governo Bill. Com apoio dos vereadores, remanejamos R$ 2 milhões dos fundos municipais de Preservação de Recursos Hídricos e de Habitação e recebemos de forma antecipada a devolução de R$ 400 mil do duodécimo da Câmara Municipal. Com esses recursos, compramos insumos e equipamentos para estruturar a rede para o enfrentamento ao coronavírus. Essa reengenharia, somada aos R$ 547,8 mil repassados pelos governos estadual e federal para o combate à Covid-19, permitiu que pudéssemos encarar a pandemia sem interromper obras importantes. São várias em andamento, entre elas três na área de saúde: as reformas da Farmácia Central e da Maternidade e a construção da UBS 7, que está em fase final de construção e vai melhorar muito o acesso de famílias da região do Jardim Nossa Senhora de Fátima à rede pública de saúde. Além disso, iniciaremos em breve a reforma do Ambulatório de Especialidades Médicas, fechando um ciclo de reestruturação de toda nossa rede de atendimento. Nos últimos 12 meses, entregamos quatro das cinco etapas da reforma e ampliação do Hospital Municipal (novas sala de espera e recepção da Clínica Médica, além da reforma e ampliação da enfermaria e a reforma das salas de emergência) e estamos avançando na reforma e ampliação da Maternidade. Ao final das cinco etapas, teremos um novo hospital, resultado da maior intervenção em mais de 32 anos. Também entregamos o Setor de Fisioterapia todo reestruturado e as UBS’s 2 (São Jorge) e 3 (São Manoel) reformadas, três grandes conquistas da nossa população.

6. Há previsão de recebimento de novos recursos para combate ao coronavírus?

Esta semana, recebemos do deputado federal Vanderlei Macris (PSDB), um grande parceiro de Nova Odessa, a notícia de que vamos receber mais R$ 1,5 milhão do governo federal. Os recursos serão repassados em caráter especial, com liberação mais rápida, para investimento em serviços de atenção básica e média complexidade como aquisição de medicamentos e insumos, aquisição de equipamentos e contratação temporária de pessoal. Além disso, aguardamos mais recursos do governo federal, por meio do Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus, que já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado e aguarda sanção do presidente Jair Bolsonaro.

7. Olhando para a rede municipal de saúde, quais são os principais avanços nos últimos anos, na sua avaliação?

Todas as obras que realizamos, incluindo as reformas de todas as UBS’s, a ampliação da rede e a reestruturação do nosso complexo hospitalar, têm a finalidade de melhorar o atendimento e ampliar o acesso da população ao SUS [Sistema Único de Saúde]. No entanto, quando fui convidado pelo prefeito Bill para assumir a secretaria recebi a missão de trabalhar pela humanização do atendimento. Cada cidadão é único e precisa sentir isso quando entra numa unidade de saúde. Por isso, além das melhorias na estrutura física da rede, trabalhamos para conscientizar os nossos servidores sobre a importância da qualidade do serviço prestado. Para isso, além de adaptar os prédios, proporcionando mais conforto, privacidade e segurança a pacientes e acompanhantes, contratamos profissionais aprovados em concursos, investimos em capacitação e fazemos questão de externar a importância de cada servidor no atendimento à população.