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Instituto da Secretaria de Agricultura tem quatro animais mortos e a carne furtada

Os animais do IZ, abatidos de forma clandestina dentro do pasto, sem qualquer higiene acarreta em prejuízos financeiros e na perda de dados para os estudos futuros

Os quatro animais de projeto de pesquisa do Instituto de Zootecnia (IZ/APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, foram mortos, na madrugada do último sábado, 21, em um abate considerado clandestino e de risco para o consumo, já que o processo foi feito no próprio pasto. Os animais faziam parte de um projeto experimental que participava de diversos estudos, dentre eles, a coleta de dados sobre mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em sistemas de pastagem.

“Perdemos dados de pesquisa, que acarretarão em atraso importante nos estudos que seriam analisados durante diversos meses”, afirma a pesquisadora Cristina Maria Pacheco Barbosa, diretora substituta do IZ, que também enfatiza que a polícia investigará o caso. Devido à quarentena do Coronavírus, o boletim de ocorrência está em andamento.

A diretora destaca que a segurança está sendo reforçadas e novas câmeras instaladas em pontos estratégicos. “Estamos tomando todas as providências para manter as áreas monitoradas”.

Segundo Cristina, a carne apresenta risco ao consumo humano porque foi um abate clandestino sem os devidos cuidados sanitários – sem inspeção sanitária e análise do produto. “Em um frigorífico, há garantias, as carcaças são avaliadas por meio de diferentes mecanismos e por representantes de órgãos de inspeção”, detalha Cristina.

Pesquisa

Os animais faziam parte do experimento “Consórcio de gramíneas e leguminosas como estratégia de mitigação de metano e fixação biológica de nitrogênio (FBN) no solo”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) – “Climatic Changes: Adaptation and Mitigation, Strategic practices for mitigating greenhouse gas emissions in grassland systems of the Brazilian Southeast”, que visa identificar sistemas que resultem em menor impacto ambiental e com bem-estar animal, trabalhando com consórcio entre forrageiras, integração da pecuária com a lavoura, sistemas silvipastoris e sistemas intensificados de produção.

Diretora do Centro de Pesquisa de Nutrição Animal e Pastagem, a pesquisadora responsável pelo projeto no IZ, Luciana Gerdes, detalha que o experimento avalia os efeitos da inclusão de leguminosas forrageiras em sistemas de produção pecuária, especialmente, relacionadas à mitigação de metano entérico, fixação de nitrogênio e estoque de Carbono no solo; desenvolver estratégias práticas para a mitigação do metano entérico na pecuária, que sejam facilmente adaptáveis às condições reais das fazendas; além de diminuir o impacto da produção de alimentos sobre o meio ambiente, diante das demandas crescentes por mais alimentos no futuro.

O projeto tem a parceria com a Universidade de São Paulo (USP), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA São Carlos e Jaguariúna) e Universidade da Califórnia, Davis (UC Davis) e IBGE. Participam do projeto cerca de 30 cientistas das instituições públicas do governo do Estado de São Paulo, Governo Federal e Universidade internacional. As cinco instituições se uniram para desenvolver estudos na área de desenvolvimento da pecuária sustentável.

Prejuízos

“Os animais mortos estavam em avaliação há oito meses e permaneceriam por mais 16 meses até o final do estudo. Os animais possuíam cápsulas no rúmen com hexafluoreto de enxofre (SF6), utilizado para medir o metano (CH4) eructado pelos animais”, enfatizou Gerdes.

Gerdes destaca que há um prejuízo pontual no recurso investido, tanto pela Agência de fomento Fapesp, quanto da própria Instituição, pois os animais são patrimônio do Estado. “Houve um prejuízo de cerca de R$ 30 mil investidos, somando a perda dos animais, assim como os dados de pesquisa que seriam analisados e cercas destruídas”.

Gerdes lamenta toda esta barbárie, principalmente neste momento em que todos estão preocupados com a Pandemia da Covid-19, e “mesmo assim equipes reduzidas dão continuidade aos trabalhos de pesquisas agropecuárias que não poderão parar. Produtores esperam por resultados destes estudos, que contribuirão para manter a qualidade e segurança dos alimentos”.

“O responsável por este furto venderá ou consumirá uma carne sem saber da procedência, além de destruir todo um tempo dedicado em avaliações de suma importância para pesquisa”, destaca Gerdes, indignada com o fato.