A moradora Alzira de Fátima Batista Filadelpho, de 62 anos, do bairro São Manoel, procurou o Jornal Nova Odessa para denunciar uma situação que, segundo ela, aconteceu há cerca de dois meses na Unidade Básica de Saúde III “Vereador Pedro Piconi”, localizada no bairro Jardim Éden, em Nova Odessa. Alzira relata que teve um quadro de pressão alta e sintomas de urgência, mas ainda assim não foi atendida pela equipe da unidade, o que a levou a procurar o Pronto-Socorro da cidade por meios próprios.
Segundo o relato, Alzira procurou a UBS com fortes dores de ouvido e de cabeça. Na triagem, sua pressão arterial foi aferida em 16 por 9, valor considerado de alerta, principalmente diante dos sintomas que apresentava. A enfermeira-chefe da unidade teria sido informada do estado de saúde da paciente, mas optou por não realizar o encaixe com o clínico, mesmo com salas vazias e ausência de pacientes, como Alzira registrou em foto que deseja anexar à denúncia.
“Ela viu o meu estado, viu que eu não estava bem, e as salas estavam vazias. Não tinha paciente nenhum, ela poderia ter me encaixado”, afirma.
Revoltada, Alzira conta que conseguiu manter o controle emocional, mas se sentiu humilhada e desrespeitada pela conduta da profissional.
Sem alternativa, seguiu a recomendação da própria enfermeira e se dirigiu, de ônibus, até o Pronto-Socorro. Lá, foi atendida por um médico que teria se mostrado perplexo com a conduta da UBS:
“O médico falou que ela tinha que me encaixar, sim. Disse que, no mínimo, já que ela não quis me atender ali, deveria ter chamado uma ambulância, providenciado um transporte com acompanhamento da unidade.”
No hospital, Alzira recebeu medicação para a pressão e um tranquilizante, que, segundo ela, poderia ter sido preparada na própria UBS e aplicado na veia. O médico lamentou a falha no atendimento e alertou para os riscos que a paciente correu:
“Ele disse que podia ter dado um enfarte ou um AVC no caminho. E que isso está acontecendo com frequência. Isso ficou na minha cabeça, voltei chorando. Não consegui esquecer.”
Ainda abalada, Alzira conta que, nesta semana, voltou à UBS para verificar sua pressão. A pressão estava em 14×9, mas, ao solicitar nova conversa com a enfermeira-chefe, a situação se agravou. “Ela achou que eu estava gravando a conversa, ficou nervosa, chamou duas testemunhas e começou a falar mentiras, dizendo que eu já cheguei ameaçando naquele dia. Isso nunca aconteceu. Chorei de novo, fiquei nervosa, minha pressão subiu para 18×11”, relatou. Uma funcionária chegou a mencionar que não registraria os dados no sistema.
Segundo Alzira, a profissional chegou a ameaçar chamar a polícia, mas não o fez. Ela afirma contar com o testemunho do marido e de uma funcionária da recepção, que presenciaram o ocorrido, e nega qualquer atitude agressiva. “Por conta das calúnias, fiquei com medo até de ser mal atendida depois. Infelizmente, voltei a depender do SUS. Até dois meses atrás, eu tinha convênio. Hoje, não tenho mais.”
Além disso, Alzira enfrenta problemas graves de visão causados por catarata e afirma que foi recusada para entrar na fila de cirurgia. “O oftalmologista disse que tem pacientes em situação pior, quase cegos, e que por isso não me colocaria na fila. Mas eu também estou com a visão ruim e tenho dificuldade até para fazer minhas atividades básicas”, desabafa.
Ela reforça que não deixará o caso passar em branco. “Passaram-se dois meses, mas não dá para aceitar. Procurei o jornal porque não quero que isso fique impune. Quero que outras pessoas não passem pelo que eu passei.” Alzira também informou que irá registrar um boletim de ocorrência nos próximos dias, formalizando a denúncia para que o caso seja apurado pelas autoridades competentes.
Moradora de Nova Odessa há quatro décadas, Alzira finaliza com um apelo por respeito e dignidade:
“Pago meus impostos em dia. Não sou visitante, sou moradora. A gente precisa do SUS e quer ser tratado com humanidade. Fui ao Postinho porque estava passando mal, e até hoje estou tentando lidar com o que vivi.”