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Mary Quant – A Rebelde que Vestiu a Liberdade e Ainda Dita Regras em 2025

Escrito por Fernando Fray Espanha

Em abril de 2023, a moda perdeu uma de suas maiores visionárias: Mary Quant, a
estilista britânica que transformou o guarda-roupa feminino e definiu a liberdade dos
anos 1960. Nascida em 1930, Quant faleceu “em paz”, segundo sua família,
deixando para trás um legado que continua a ecoar nas passarelas e nas ruas até
2025.
Reconhecida como a “mãe da minissaia”, ela não apenas criou uma peça icônica,
mas desafiou estereótipos machistas com um estilo rebelde e democratizou a moda
para as jovens da época. Sua ousadia inspirou gerações e sua influência
permanece viva, como comprovam as recentes homenagens e releituras de seu
trabalho.

De Aprendiz a Lenda: A Trajetória de Mary Quant

Conheça a história de Mary Quant, a mãe da minissaia - ELLE Brasil

Foto: Mirrorpix

Formada em artes na década de 1950, Mary Quant começou como aprendiz em
uma chapelaria antes de revolucionar a indústria da moda. Em 1955, ao lado de seu
marido, Alexander Plunket Greene, inaugurou sua primeira loja, Bazaar, na
movimentada Kings Road, em Chelsea. O local rapidamente se tornou um ponto de
encontro para artistas e jovens que buscavam um estilo rompedor.
Com um restaurante no subsolo e vitrines irreverentes, a loja era mais que um
espaço comercial; era um manifesto cultural. Seus designs, repletos de cores
vibrantes, estampas geométricas e cortes ousados (como as hot pants e, é claro, a
minissaia), capturavam o espírito de uma juventude ávida por mudanças.

 

Conforto, Liberdade e Polêmica: A Moda como Revolução

O legado de Mary Quant muito além da minissaia » STEAL THE LOOK

Foto: PA Media

 

O grande trunfo de Mary Quant foi colocar o conforto e a autonomia feminina no
centro de suas criações. Enquanto a moda dos anos 1950 ainda refletia convenções
rígidas, suas peças celebravam o movimento, a praticidade e a alegria de viver. Não
surpreende que os conservadores da época tenham reagido com críticas – mas
Quant transformou a rejeição em combustível para seu sucesso.
A minissaia, seu símbolo máximo, não era apenas um pedaço de tecido curto: era
um sinal de emancipação. Como a própria estilista dizia: “A moda não é para ser
levada a sério, mas para divertir.”

 

O Legado em 2025: Homenagens e Releituras que Mantêm Viva a Revolução
de Mary Quant

Desde sua partida em 2023, o mundo da moda e da cultura não parou de celebrar
Mary Quant, provando que sua visão revolucionária permanece incrivelmente atual.
Em 2024, o Victoria & Albert Museum (V&A) de Londres inaugurou a aclamada
exposição “Quant 60: A Revolução da Minissaia”, que não apenas exibia peças
originais dos anos 1960, mas também mostrava como seu trabalho influenciou seis
décadas de moda – desde os arquivos de designers como Vivienne Westwood até
looks contemporâneos de Marc Jacobs. A mostra atraiu mais de 300 mil visitantes,
tornando-se uma das mais populares do museu nos últimos anos.
A indústria da moda também prestou seu tributo. Em março de 2025, o governo
britânico lançou uma série especial de selos postais com seus designs mais
icônicos, incluindo a minissaia e suas estampas geométricas vibrantes, como parte
da coleção “Lendas da Moda” – um reconhecimento oficial ao seu papel na
transformação cultural do Reino Unido. Marcas como JW Anderson e Miu Miu
reinterpretaram seu Chelsea Look em coleções recentes, combinando seu espírito
jovial com técnicas sustentáveis. A estilista britânica Stella McCartney, em entrevista
à Vogue, afirmou: “Mary nos ensinou que moda pode ser divertida e politizada ao
mesmo tempo – essa lição guia meu trabalho até hoje”.
Na cultura pop, sua influência se manifestou de formas surpreendentes. A quinta
temporada de The Crown (2024) dedicou cenas inteiras ao impacto de Quant na
Londres dos anos 1960, com a atriz interpretando uma jovem comprando sua
primeira minissaia na Bazaar. Até mesmo em Bridgerton (2023), os figurinistas
admitiram ter usado as estampas psicodélicas de Quant como inspiração para os
trajes da alta sociedade regency. Na música, Beyoncé homenageou o legado da
estilista durante seu Renaissance World Tour (2023), com sequências de looks que
incluíam hot pants e botas de cano alto – uma clara referência ao estilo Quant.
O movimento gender-fluid também encontrou em Quant uma precursora inesperada.
Designers como Harris Reed e Charles Jeffrey frequentemente citam seu trabalho
como fundamental para a moda sem gênero. “Ela vestia homens e mulheres com a
mesma irreverência, décadas antes de falarmos sobre fluididade”, observou Reed
em seu desfile de outono de 2024. Suas peças unissex dos anos 1960, como os
suéteres oversized e calças skinny, são hoje consideradas peças-chave na história
da moda inclusiva.
Em 2025, enquanto novas gerações descobrem seu trabalho através de exposições
e documentários como “Quant: The Woman Who Shortened the World”, fica claro
que Mary Quant não foi apenas uma estilista – foi uma força cultural cujo impacto
continua a se expandir, provando que a verdadeira revolução nunca sai de moda.

 

Texto: Fernando Fray (Fernando Fray é produtor de moda, formado em Têxtil e Moda, com experiência em editoriais do segmento para revistas e jornais. Colaborou na criação de textos e coluna periódica do gênero em veículos de comunicação.)