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Julho Amarelo alerta para avanço das hepatites virais: casos de hepatite A crescem 90% em SP

Campanha reforça importância da testagem e vacinação para conter doenças silenciosas que podem levar à morte

Silenciosas, altamente contagiosas e potencialmente fatais, as hepatites virais continuam sendo um grave problema de saúde pública. No estado de São Paulo, os casos de hepatite A aumentaram 90% no primeiro semestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024. Foram 949 notificações contra 498 no ano anterior, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde.

Em Campinas, os números também revelam crescimento: de 28 casos confirmados em 2022, o município saltou para 117 em 2023 e 119 em 2024. De janeiro a julho deste ano, já são 45 novos registros.

O cenário reforça a importância do Julho Amarelo, campanha nacional de combate às hepatites virais, que tem o dia 28 de julho como marco mundial definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A iniciativa visa ampliar a conscientização sobre a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento dessas doenças que, segundo a OMS, causam mais de 1,3 milhão de mortes por ano em todo o mundo.

Um inimigo silencioso

“As hepatites virais são um desafio global”, afirma a infectologista Vera Rufeisen, do Hospital Vera Cruz, em Campinas. “A alta prevalência, a transmissão silenciosa e a ausência de sintomas na maioria dos casos dificultam o diagnóstico precoce e aumentam a mortalidade.”

Classificadas nos tipos A, B, C, D e E, as hepatites têm diferentes formas de contágio. As do tipo A e E, por exemplo, são transmitidas principalmente por alimentos ou água contaminada. Já as do tipo B, C e D são mais frequentemente relacionadas ao contato com sangue, relações sexuais desprotegidas e transmissão da mãe para o bebê, no caso da hepatite B.

“A hepatite B e a hepatite C são as que mais preocupam, pois costumam evoluir de forma silenciosa e têm maior risco de se tornarem crônicas, levando à cirrose ou até câncer de fígado”, explica a médica. Os sintomas, quando aparecem, podem incluir febre, cansaço, dor abdominal, icterícia, urina escura e náuseas — mas muitas vezes a infecção passa despercebida.

A testagem sorológica, oferecida gratuitamente pelo SUS, é uma das principais armas contra a disseminação da doença. “Ela permite o diagnóstico precoce e o início do tratamento antes que ocorram complicações graves”, afirma a especialista.

A recomendação é que pessoas de grupos de risco façam o teste com regularidade, como profissionais da saúde, gestantes, usuários de drogas injetáveis, pessoas vivendo com HIV, imunossuprimidos, idosos e detentos.

Apesar da gravidade, há boas notícias: a hepatite C hoje pode ser curada em mais de 95% dos casos com antivirais de ação direta. No caso da hepatite B, o tratamento busca controlar a infecção, embora a cura definitiva ainda seja rara. Já os tipos A e E, em geral, têm evolução autolimitada e não exigem tratamento específico, apenas suporte clínico.

Vacinação é a principal forma de prevenção

As vacinas contra as hepatites A e B estão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde e em Centros de Referência em Imunobiológicos Especiais (CRIEs). A imunização contra a hepatite B é indicada desde o nascimento e, quando a mãe é portadora do vírus, o recém-nascido também deve receber imunoglobulina específica.

Além da vacina, outras medidas preventivas incluem:

  • Uso de preservativo em todas as relações sexuais;
  • Não compartilhamento de seringas, lâminas ou objetos cortantes;
  • Cuidados com higiene na manipulação de alimentos;
  • Triagem rigorosa de sangue e hemoderivados;
  • Garantia de boas práticas em serviços de saúde e estética.

Meta global até 2030

A OMS traçou como meta eliminar as hepatites virais como ameaça à saúde pública até 2030. Para isso, é necessário ampliar o acesso ao diagnóstico, ao tratamento e à vacinação, além de reduzir comportamentos de risco.

“O maior inimigo das hepatites é o silêncio”, resume Vera Rufeisen. “O Julho Amarelo é um chamado à ação: quanto mais cedo identificarmos e tratarmos as hepatites, maiores as chances de cura e menores os riscos de complicações.”

SERVIÇO

A testagem para hepatites virais é gratuita pelo SUS. Procure a unidade de saúde mais próxima, especialmente se você pertence a um grupo de risco. A prevenção pode salvar vidas.