Lembrei dessa frase na quinta-feira passada, exatamente às quatro e meia da tarde. Eu, com um pedaço de bolo de fubá numa mão e café arábico na outra, tive uma dessas iluminações dignas de filósofo grego: como eram sábios os velhos da minha infância! E digo isso por constatação, digo por rememorar o que, na minha ingenuidade de jovem, considerava ultrapassado. A começar pelo profundo prazer de no meio da tarde comer um bolo com um cafezinho passado na hora. Um ritual simples, quase besta, mas que os jovens não compreendem a dimensão disso. Coitados. Não sabem a paz que reside nesse gesto, nessa pequena pausa no corre-corre que eles juram que é vida.
Lembro da minha avó, uma mulher que nasceu velha, com o peso da sabedoria nos ombros. Lembro dela em dias frios, soltando uma de suas pérolas: “Quem bem souber, não sai de casa hoje.” Esta semana fez oito graus em São Paulo, e não importa o quanto a programação lá fora parecesse interessante, eu não saí de casa por nada. Porque, aos vinte e nove, eu bem soube. Obrigado, avó.
Aliás, andei fazendo uma lista das melhores coisas de velho que adotei, com orgulho, na minha vida. Anota aí: 1. Evitar dormir fora de casa, cama alheia é território hostil. 2. Dormir antes das 22h, sempre que possível. 3. Fugir de lugar cheio onde não tenha cadeira. Fila, pista de dança, balada open bar, se não dá pra sentar, não dá pra mim. 4. Casa arrumada é paz de espírito. 5. Pilates funciona. 6. Ter sempre um Dorflex na mochila. Nunca se sabe quando o ciático resolve opinar. 7. Ter um guarda-chuva bom.
É isso. Para mais dicas, consulte o velho mais próximo de você.
Texto: Elias Cavalcante (Escritor, jornalista e publicitário. Escreve sobre o cotidiano).