Os recentes escândalos envolvendo fraudes bilionárias no INSS expõem com clareza e tristeza, um problema antigo: o descaso com um dos sistemas que mais impacta a vida dos brasileiros. A revelação de um esquema estruturado que desviou bilhões de reais enquanto milhares de pessoas aguardam, com angústia, por um direito legítimo, é mais do que chocante, é revoltante.
Eu vivo essa realidade todos os dias. À frente da Aposerv, atendo pessoas que, mesmo com laudos, documentos e urgência comprovada, esperam meses por uma resposta. Muitas delas não têm mais condições de trabalhar e sequer conseguem sustentar a família durante esse tempo de espera. E o pior: muitas têm o benefício negado sem justificativa clara, enquanto outras, infelizmente, são vítimas de golpes no meio desse processo.
E a situação pode ser ainda mais crítica do que parece. Segundo dados recentes, se fossem considerados todos os tipos de benefícios previdenciários, a fila do INSS poderia ser até quatro vezes maior. Isso escancara uma realidade: não falta apenas gestão, falta respeito com o cidadão que contribui ao longo de toda uma vida esperando um amparo digno quando mais precisa.
Enquanto isso, recursos são desviados em esquemas criminosos que ferem a dignidade de milhões de brasileiros. É inadmissível que, em pleno século XXI, o acesso à previdência ainda seja marcado por filas intermináveis, falhas no atendimento e uma burocracia desumana.
O debate sobre o futuro da previdência no Brasil precisa ir além das promessas. É necessário reformar profundamente a estrutura, investir em tecnologia, transparência e, principalmente, em respeito ao cidadão. O INSS não pode continuar sendo um sistema onde o mais vulnerável precisa implorar por um direito, enquanto outros se aproveitam da sua fragilidade.
A crise do INSS não é apenas um problema administrativo. É um sintoma de uma desconexão grave entre o que o sistema público deveria representar, amparo, dignidade e proteção, e o que infelizmente tem oferecido. Que esse momento de indignação nos inspire a buscar por mudanças reais, onde o cidadão volte a ser prioridade e o direito previdenciário tratado com a seriedade que merece.
Juçara Rosolen