Em entrevista ao Jornal de Nova Odessa, o ex-prefeito Benjamim Bill Vieira de Souza (PL), responde com firmeza às acusações feitas pela atual administração de Leitinho, que o responsabiliza por dívidas com precatórios. Bill defende sua gestão, destaca os investimentos em mobilidade urbana e afirma que a dívida com precatórios poderia ter sido evitada com planejamento. Para ele, as críticas são manobras políticas e a atual gestão falha em não assumir responsabilidades. Além disso, Bill disse que pagou mais de R$ 38 milhões em precatórios em suas duas gestões e não deixou que esses débitos atrapalhassem os serviços públicos e fornecedores.
JNO: A atual gestão pagou mais de R$ 6 milhões em precatórios, decorrentes de uma desapropriação feita durante sua administração, especificamente para o prolongamento da Avenida João Pessoa. Por que a desapropriação foi realizada e como foi conduzido o processo à época?
Bill: Em primeiro lugar, a desapropriação foi necessária para melhorar a mobilidade do nosso município. A Avenida João Pessoa é uma via importante, e a cidade está em crescimento. Com esse crescimento, é preciso também investir em mobilidade urbana.
Surgiu, então, essa necessidade — que compreendemos bem — pois a situação já estava gerando transtornos para os moradores. Por isso, decidimos prolongar a Avenida João Pessoa até que ela se encontrasse com a Avenida Eddy Freitas Crissiúma. Essa foi a ideia. Com essa obra, conseguimos melhorar significativamente a vida das pessoas que vivem nas regiões dos bairros Imigrantes, Primavera, Jardim Dona Maria Azenha, Bela Vista e Santa Rosa. Só que a obra teria uma segunda etapa, que não foi possível realizar por conta da pandemia, que era a interligação com a Eddy de Freitas. Hoje, quando passamos pela Eddy de Freitas nos horários de pico e até fora dele, temos a certeza de que o nosso projeto era essencial para a mobilidade urbana de Nova Odessa e foi deixado de lado pela atual administração. Aliás, a cidade como um todo foi deixada de lado.
JNO: Segundo o atual prefeito, essa dívida obrigará a prefeitura a deixar de pagar cerca de 100 fornecedores e entidades, o que causaria impactos graves nas finanças municipais e nos serviços públicos. O senhor considera justa essa afirmação? A dívida poderia ter sido evitada ou negociada de outra forma?
Bill: Mentira tem perna curta. Esse precatório foi apontado em 2020, no valor de R$ 1,7 milhão, sem contar os encargos. Em 2021, diante da inércia da prefeitura, deixaram de honrar o compromisso. Nós deixamos o dinheiro em caixa justamente para que houvesse planejamento e o pagamento fosse realizado. Por isso, é injusto ele alegar que isso vai prejudicar o pagamento de fornecedores ou a prestação de serviços públicos à comunidade. É claro que daria para negociar, com certeza. Todo prefeito assume precatórios de outras gestões — o que ele precisa é identificar essas obrigações, planejar e reservar os recursos necessários para pagá-las. Mas ele não fez isso em 2022. Perdeu a ação em São Paulo. Outra coisa que é importante ficar bem claro é que, ao longo dos meus dois mandatos, entre 2013 e 2020, eu paguei R$ 38, 2 milhões em precatórios, sejam eles trabalhistas ou judiciais. Só no primeiro ano, isso em 2013, foram mais de R$ 6,5 milhões. Honrei esses precatórios deixados por meus antecessores e nunca, um dia sequer, os serviços essenciais foram prejudicados ou deixamos de pagar qualquer tipo de fornecedor. Sabe o que é isso? Chama-se gestão administrativa e responsabilidade, tudo o que falta ao atual prefeito. Quando ele fala em “dívida”, na verdade está se referindo a precatórios. É importante lembrar que deixamos R$ 34 milhões em caixa, e minha secretária de Finanças era a Mara Kilmers, que nasceu e foi criada em Nova Odessa. Se fosse realmente dívida, eu não teria oito contas aprovadas. Eu não teria encerrado o mandato com todos os fornecedores e serviços pagos em dia.
JNO: Leitinho o responsabiliza diretamente por essa e outras dívidas, alegando que sua gestão teria deixado “bombas” para o governo atual. Como o senhor responde a essa acusação?
Bill: Na minha opinião, o prefeito, por falta de conhecimento administrativo e de gestão, não tem noção do que fala. Ele não assume suas responsabilidades como gestor. O que me preocupa de verdade é o futuro da nossa cidade. A única “bomba” que vejo é o desrespeito com o dinheiro público.
JNO: Há outras situações semelhantes que o senhor acredita estarem sendo distorcidas ou politizadas?
Bill: Sim. Ele se vitimiza sempre que se vê diante de desafios e cria narrativas contra a minha gestão. Está deixando um verdadeiro caos em nossa cidade.
JNO: O senhor acredita que o uso do precatório como justificativa para o atraso no pagamento de fornecedores é uma manobra política do atual governo?
Bill: Com certeza. Mas acredita quem quiser. A prefeitura está com um déficit de R$ 70 milhões em dívidas.
JNO: Esse alarde que Leitinho faz sobre precatórios para tentar desqualificar gestões anteriores prejudica o debate público e a confiança na administração municipal atual?
Bill: Ao meu ver, com certeza. O que mais me preocupa hoje é o silêncio do Ministério Público e das autoridades competentes diante das constantes denúncias — como calçadas com valores absurdos, a sede da Guarda que ainda não saiu do papel mesmo já tendo sido paga, o Bosque Isidoro Bordon que foi iniciado, pago e está abandonado, assim como a sede da Guarda. Sem falar em outras questões recentes, como os altos gastos com café e despesas incompatíveis com uma gestão pública séria. O que mais me assusta é o caso da usina inaugurada em 2020, que trata o lodo da Estação de Tratamento de Esgoto. Ela não gerava custo ao município, pois foi construída com verbas federais e emendas parlamentares, e operava com funcionários municipais. Hoje, o governo Leitinho terceirizou o serviço por R$ 2,8 milhões, sendo que antes não havia esse gasto. Como justificar isso? Como gestor, Leitinho é um bom artista.
JNO: Leitinho também afirma que o empresário Renan Cogo, dono do Jornal de Nova Odessa (JNO), é do seu grupo político e que, por isso, estaria sendo atacado pelo veículo de comunicação. O que o senhor tem a esclarecer sobre essa afirmação?
Bill: O Renan Cogo é um empresário respeitado na nossa cidade. O prefeito deveria ter mais respeito por ele. Renan foi comissionado e colaborou com o seu governo. Sobre o jornal, o Jornal de Nova Odessa é o principal veículo de comunicação da cidade e sempre se manteve imparcial. De forma alguma entendo que o jornal esteja sendo parcial. Trata-se de um veículo sério, que representa a imprensa local com responsabilidade.