Todos os dias, meu algoritmo faz um esforço danado para me convencer de que estamos à beira do abismo. Se você nasceu neste século, já se pegou pensando que o mundo está acabando em algum momento. Antes, quem falava disso era aquele tio estranho, que a gente só via nos churrascos de família, ou o pastor de esquina, com megafone e terno. Agora, quem não acha que o mundo está acabando é que está fora da casinha. Eu também acredito no nosso fim, mas por motivos menos óbvios. Aqui estão alguns sinais, ou, ao menos, um bom ensaio para ele.
Vejam os Legendários, por exemplo. Um grupo de homens adultos, e apenas homens, o que já acende uma luz vermelha, decide se isolar na floresta. Acampam, suam, gritam, se abraçam com árvores e fazem uns exercícios como gritar o nome do pai ausente enquanto socam o ar. Tudo isso para “se tornarem homens melhores para as mulheres”. A desculpa perfeita para desaparecer por um fim de semana enquanto as mulheres, como sempre, seguem sendo melhores para os filhos, a casa e o grupo do WhatsApp da escola.
E provando que a bizarrice sempre encontra um novo patamar, eis que surge o Pastor Mirim. Um menino de 14 anos que prega como se fosse neto do Edir Macedo com o Pastor Valdomiro. Ele fala em línguas estranhas, cura doenças, promete empregos, faz lives, recebe pix, tem fã-clube e merchandising. E tudo isso antes de sua voz engrossar.
Se a minha fé na humanidade já estava cambaleando, segura essa: os bebês reborn. Bonecos de silicone, ultra-realistas, que não choram, mas recebem mamadeira, banho de ofurô e até consulta pediátrica. Tem gente levando esses bebês para o shopping, com manta bordada e até pulseirinha de maternidade. Considerando que um neném real pode crescer e se transformar em um mini pastor ou até em um adulto lendário, os bebês reborn acabam sendo o menor dos nossos problemas.
Diante de tudo isso, caros leitores, pergunto: a ideia do meteoro ainda parece absurda?
Texto: Elias Cavalcante
(Escritor, jornalista e publicitário. Escreve sobre o cotidiano com humor e uma boa pitada de ironia).