Em um mundo onde a tecnologia caminha a passos largos e a inclusão se torna uma pauta obrigatória, espera-se que a moda acompanhe essas transformações, oferecendo alternativas que atendam às necessidades de todos os tipos de consumidores. No entanto, a realidade ainda está longe do ideal, especialmente para mulheres maduras que buscam peças que respeitem seu estilo e biótipo.
Atualmente, deparamo-nos com um abismo que separa as necessidades da mulher madura e a oferta do mercado fashion atual. Dados recentes do amplo estudo global realizado pela McKinsey & Company em parceria com o Fashion Revolution (2025) pintam um cenário preocupante. Embora mulheres acima dos 45 anos representem 43% do poder de aquisição no setor, apenas 22% se sentem verdadeiramente representadas pelas marcas disponíveis. Essa desconexão se reflete em números concretos – 73% das 5.000 entrevistadas em 15 países diferentes relatam dificuldade em encontrar roupas que aliem estilo pessoal e conforto, enquanto 68% abandonam lojas físicas frustradas pela falta de numerações adequadas.
Esse paradoxo se torna ainda mais gritante quando analisamos os números do mercado. Enquanto o segmento 50+ movimenta impressionantes US$ 910 bilhões globais (segundo a WGSN 2025), as opções disponíveis continuam presas a dois extremos igualmente problemáticos. De um lado, peças juvenis que ignoram as transformações naturais do corpo maduro; de outro, roupas que caem no estereótipo antiquado das “roupas de avó”, como bem aponta o relatório “Age-Inclusive Fashion” do Business of Fashion. Os dados são reveladores: apenas 12% das marcas premium desenvolvem linhas específicas para mulheres acima dos 45 anos, e impressionantes 94% das peças destinadas a essa faixa etária falham em utilizar tecidos adequados às necessidades pós-menopausa.
Apesar dos avanços na discussão sobre moda inclusiva em 2025, muitas marcas ainda falham em oferecer grades de tamanhos diversificadas, deixando mulheres gordas, baixas ou altas à margem do mercado. No entanto, algumas iniciativas têm surgido para mudar esse cenário. Marcas como a Todah e a Inclusivewear estão investindo em modelagens adaptáveis e numerações estendidas, enquanto a tecnologia 3D vem sendo usada para criar roupas sob medida, reduzindo o desperdício de tecido. Além disso, a inteligência artificial já auxilia na personalização de peças, sugerindo combinações que se adaptam ao biótipo e às preferências de cada pessoa.
Outras tecnologias também emergem como uma luz no fim do túnel, ainda que com limitações significativas. A plataforma SizeMe, que utiliza scans corporais para recomendar marcas com melhor caimento (reduzindo devoluções em 40%), e os tecidos de regulagem térmica da startup AdaptLab representam avanços concretos. Grandes varejistas como Zara e Mango já implementaram provadores virtuais com avatares personalizados. No entanto, como alerta a antropóloga Dra. Luísa Mendonça da USP, “a tecnologia sem diversidade acaba criando novas formas de exclusão“, referindo-se aos sistemas de recomendação que ainda falham ao lidar com corpos fora dos padrões convencionais.
O cenário atual também apresenta motivos para otimismo. Além das já consagradas influencers como Sarah Jane Adams e Lyn Slater, 2025 testemunhou o surgimento de iniciativas notáveis. A plataforma @SilverStylist, com seus 2,3 milhões de seguidoras, dedica-se exclusivamente a traduzir tendências para corpos 50+. No Brasil, a marca Rejuva inovou ao desenvolver suas modelagens a partir de scans corporais de 1.000 mulheres entre 45 e 75 anos. Campanhas como a
#IdadeSemFiltro da Nike, que mostrou atletas masters em ação com seus corpos reais, viralizaram ao desafiar convenções.
Especialistas apontam caminhos claros para a evolução necessária. Grades inteligentes como as da marca ELO, que oferece 12 variações de calças jeans para diferentes tipos de mudanças corporais pós-40, representam o futuro. A representatividade radical adotada pela italiana Fili Pari, que utiliza exclusivamente modelos acima de 45 anos em suas campanhas, mostra o potencial de uma abordagem autêntica. A tecnologia acessível, exemplificada pelo app StyleGen que cria looks personalizados considerando biótipo, preferências e necessidades de mobilidade, precisa se tornar regra e não exceção.
Como resume a consultora de moda inclusiva Marina Silva, “em 2025, mulheres maduras não buscam mais roupas para disfarçar, mas peças que celebrem sua jornada“. O desafio que permanece é fazer com que toda a indústria da moda enxergue esse segmento não como um nicho, mas como uma oportunidade vibrante e necessária – afinal, envelhecer com estilo é um direito, não um privilégio.